A importância da equipe multidisciplinar no tratamento em Saúde Mental

Por Luiz Felício

Gestor Multidisciplinar de Saúde Mental do Hospital Internação 24h

 

       No campo da psiquiatria, desde os fins da década de 70, houve um crescente movimento que visou discutir as formas de trabalho em saúde mental e a devida adequação de profissionais afins, objetivando a real necessidade de promover o cuidado ampliado em saúde para a população. Nessa época, destacava-se o papel do profissional médico. Entretanto, devido à sua formação especializada e com vistas ao processo de cura, surgiu a necessidade de repensar o modelo, agregando novas práticas relacionadas à multidisciplinaridade.

       Já na década de 80, a proposta apresentou contornos mais concretos sendo possível perceber a entrada de profissionais não médicos na dinâmica do cuidado, exercido de forma ampliada e multidisciplinar. Atrelado ao processo de redemocratização do Estado e da sociedade brasileira que contribuiu para o surgimento e fortalecimento de políticas em saúde, novos conceitos também passaram a direcionar as ações em saúde mental. Um deles, a integralidade, foi concebido como uma diretriz que se organiza ao ser disparada pela construção de projetos terapêuticos singulares, construídos com recursos diretivos para a assistência ao paciente. Assim, entende-se que seria por meio da visualização da real necessidade do paciente versus o que seria possível oferecer a ele de forma coletiva, isto é, multidisciplinar que o cuidado seria produzido.

       Atualmente, a definição de trabalho multidisciplinar está relacionada a uma junção de saberes e práticas compostas por diferentes campos do conhecimento que fazem parte de um serviço e objetivam a promoção de um cuidado integral ao paciente e sua família. Uma equipe multidisciplinar é composta por médicos, profissionais da enfermagem, psicólogos, terapeutas em dependência química, farmacêuticos, assistente social, arteterapeutas, terapeutas ocupacionais, musicoterapeuta, educadores físicos, nutricionistas, oficineiros, recreadores e diversas outras especialidades, conforme o serviço oferecido.

       Sendo a saúde mental um campo marcado por encontros e desencontros, o trabalho multidisciplinar realizado por uma equipe requer tempos distintos de compreensão dos casos, requer a integração das práticas que se convergem a pontuais intervenções ao longo dos tratamentos propostos. O trabalho em equipe acaba sendo afirmado pelas diferentes especialidades a partir da diversidade clínica onde, a prática de um profissional se reverbera na do outro em torno da tarefa de responder adequadamente às necessidades dos pacientes. Assim, a equipe multidisciplinar acaba sendo evidenciada como um dispositivo que produz representações dos sentidos do trabalho a ser desenvolvido por cada profissional e, nesse processo de interação, diferentes significados são produzidos, gerando espaços nos quais os pacientes podem se posicionar, falar e se reposicionarem frente aos seus percursos de vida, vinculações sociais e redes de apoio.

       O trabalho multidisciplinar, para além de evocar ‘subjetividades’ para a construção dos percursos individuais, também está diretamente ligado à produção de qualidade de vida e bem-estar dos indivíduos. Cada profissional que compõe uma ‘equipe multi’ tem uma contribuição específica para o tratamento e cuidado com a saúde mental dos pacientes. Trabalhando em conjunto, a equipe multidisciplinar pode oferecer um atendimento mais completo e eficaz, considerando as diversas questões que podem estar envolvidas nos transtornos mentais e nos transtornos por uso de substâncias. Além disso, o trabalho coletivo garante que o paciente tenha um suporte mais amplo e integrado em seu contexto territorial, produzindo resultados mais eficazes em longo prazo.

 

#CuidarÉaNossaVocação